3 de out. de 2011

Can – Peel Sessions 73-75



Em termos de influência sobre o que foi feito no rock a partir dos anos 80, o Can, entre os grupos alemães, talvez seja tão fundamental quanto o Kraftwerk. Seus discos setentistas foram todos gravados em estúdio próprio e tiveram a produção mágica de Holger Czukay, o baixista da banda. Uma das poucas exceções são estas gravações que fizeram nos estúdios da BBC para o DJ londrino John Peel, um dos grandes entusiastas do rock produzido na Alemanha mesmo antes dele ser rotulado de krautrock.
O Can era uma banda intuitiva. Seus músicos gostavam de gravar improvisos que duravam horas e depois editavam um trecho como faixa de algum de seus LPs. Foi assim com You Doo Right no LP Monster Movie e com Mother Sky no LP Soundtracks, só para citar duas de suas composições. Czukay chamava esses improvisos de “spontaneous compositions” e as seis faixas deste Peel Sessions são exatamente isso. Gravadas em quatro sessões distintas entre 1973 e 1975, com uma duração de 15 a 20 minutos cada sessão, as músicas apresentadas aqui são quase todas inéditas na discografia da banda.
Up The Bakerloo Line with Anne, a faixa que abre o Peel Sessions, foi retirada da primeira sessão, gravada em 16 de março de 73, ainda com o cantor Damo Suzuki como membro da banda. O japonês com voz de fritador de pastéis supersônicos deixou o Can em setembro daquele ano, logo após as gravações do LP Future Days, para se tornar Testemunha de Jeová. Desconfia-se que a Anne do título seja a DJ Anne Nightingale, companheira de John Peel na BBC Radio 1. Bakerloo poderia muito bem ser uma faixa do Ege Bamyasi, com um groove hipnótico e muitas estripulias por parte de Suzuki e do guitarrista Michael Karoli.
Return to BB City e Tape Kebab, as duas próximas faixas , foram gravadas na sessão de 8 de outubro de 1974 e aqui encontramos um Can mais viajante (BB City) e pinkfloydiano (Tape Kebab).
Aliás, muitos críticos da época gostavam de associar o som do Can ao do Pink Floyd. Tiveram lá suas semelhanças (forçando um pouco), mas o Can era muito mais doidão. Malcolm Mooney, o primeiro cantor da banda, por exemplo, era tão surtado quanto Syd Barrett, e o fuzz da guitarra de Karoli tinha seus momentos de David Gilmour, embora voasse mais alto. Nesse mesmo ano, na terceira tour inglesa do grupo, eles até mesmo batizaram uma apresentação que fizeram para um programa londrino de TV com o jocoso nome de “Set Controls For The Art Of The Sun”.

Mas a verdade é que o Can já havia sido convidado para abrir shows do Pink Floyd no final de 72 e acabou recusando porque seu tempo de apresentação teria de ser mais curto do que os músicos gostariam. Bobeira deles, porque isso provavelmente teria dado muito, mas muito mais exposição ao grupo.
Tony Wanna Go, a próxima faixa, quebra a disposição cronológica das músicas já que foi gravada em 29 de janeiro de 74 ou seja, nove meses antes. Trata-se de mais uma longa improvisação, com quase 15 minutos que lembram de leve o Can dos tempos de Tago Mago, mas sem deixar saudades de Damo Suzuki. Geheim (half past one) e Might Girl, as duas últimas músicas, fazem parte da sessão gravada em 14 de maio de 1975, quando o Can estava lançando o álbum Landed. Geheim, por exemplo, saiu nesse LP com o título de Half Past One e é cantada por Michael Karoli. A sonoridade tem uma atmosfera bem intensa, mas é um tanto rebuscada se comparada ao que o Can fazia até então. Já Might Girl seria o piano de Irmin Schmidt tirando a guitarra de Karoli para dançar. O resultado é para progger nenhum botar defeitos, algo bem raro em se tratando do Can.
Peel Sessions mostra 2 anos na carreira do Can, tempo em que eles gravaram 3 álbuns de estúdio e tiveram mudanças na formação. Para quem quiser aprender o que significa espontaneidade e afinidade numa banda de rock, esta é a aula.
Músicas:
Up the Bakerloo Line With Anne
Return to BB City
Tape Kebab
Tony Wanna Go
Geheim (half past one)
Might Girl

Músicos:
Damo Suzuki – vocais em Bakerloo
Irmin Schmidt – teclados
Holger Czukay – Baixo
Michael Karoli – guitarra e vocais em Geheim
Kahi Liebezeit - bateria

http://www.mediafire.com/?jhwzwjmlyaz

por Marco Gaspari.

2 comentários:

Groucho KCarão disse...

Ainda não ouvi esse disco, mas a descrição e a faixa disponibilizada em video deram uma boa amostra de que vale a pena. Eu andava pesquisando por esses sons da Alemanha setentista, mas acabei dando um tempo. Em breve retornarei a eles. Parabéns novamente, Gaspari.

Unknown disse...

Fantastic music
And great cover too!
Thanks

79deadman
http://theevilmonkeysrecords.blogspot.com/.

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